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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Os Inimigos "fora" ?

Se algo parece existir, ocorrer, nos afetar, deve ser  porque de alguma forma – ou um resquício nosso  do  qual nem nos lembramos – está operando nessa frequência ( crença, condição, desejo, medo, etc.)

“Não cuidais vos dos de dentro, dos de fora cuidara Deus”

E  podemos  sintonizar  seja amando essa coisa, odiando-a, criticando-a, condenando-a, defendendo-a; ou seja, consentindo com isso em algum nível; até temendo-a  – isto é , admitindo o poder e a existência do que quer que seja, bom ou ruim.

Porque para odiar ou condenar algo é preciso acreditar que ele existe, que tem poder;  e que, de alguma forma representa uma ameaça para você , como algo que deseja ou posso vir  a  desejar; ou por se  sentir fraco e vulnerável . Mas o poder não é  seu?

Os vilões de desenho animado são até simpáticos; você não teme um vilão num filme ou vídeo game, porque você não lhe atribui poder. Você às vezes até “torce” por ele, pois você não está preso nesse contexto, tem liberdade; e preserva seu poder e identidade.

Da Vizinha chata e Irriiiiitante ....

“ E ela gritava e fazia fofoca, e o síndico veio nos chamar a atenção “ .  Essas foram as palavras de Berenice:
- Eu  sempre fui educada, nunca deixei meu cachorro fazer suas necessidades sem recolher os detritos, sempre a cumprimento , mesmo quando ela não responde.

- O que aconteceu?

- Eu me cansei do cachorro dela vir sempre sujar a frente do meu apartamento e, polidamente, pedi para ela limpar . Ai ela começou a gritar e me insultar. O síndico apareceu e ameaçou nos multar por barulho e comportamento inadequado.

( “Bosta” de cachorro é demais, se fosse de vaca  daria pelo menos  para fazer adubo ).

- Você já tinha tido problemas com ela? – perguntei.

- Desde que mudei, ela está sempre  fazendo fofoca, gritando reclamando , etc.

Aparentemente Berenice era a vítima: educada, limpa, falava  polidamente ,etc. Será?

- Você acredita em vizinhos chatos?

- E não vou acreditar! – reclamou. – Tenho uma bem do lado.

- E você acreditava em vizinhos chatos antes de mudar?

- E você não? – defendeu-se. – Meus pais conviveram anos com vizinhos chatos. Antes de mudar eu “rezei” para não ter vizinhos chatos.

- Entendi.

Talvez Berenice fosse até “educada” externamente, mas e seus pensamentos? Suas expectativas e temores? Suas memorias? Não  era ela a  vítima de suas ideias e crenças ?

O  chato, o estorvo, o vizinho mal educado, etc. teriam  a função de “carregar nossas vulnerabilidades” e os nossos “ medos”, tornando-se eles a fonte do medo e do incômodo; e nos protegendo de um incomodo ou perigo que parece maior: o medo ontológico. O terror e as sombras em nossa própria mente. Enquanto o vilão estiver “fora”, o vilão interno estará a salvo.  Precisamos dos vilões “fora”: vizinhos e colegas inconvenientes e até agressivos; governo ladrão; família neurótica, etc. para termos uma explicação e justificativa para nossas confabulações  e fracassos . Eles nos mantem ocupados e zangados justificam nossa raiva. E assim não percebemos que a culpa, a ideia equivocada, doente e limitante está dentro de nós. Então preservamos o status quo de vítima; e nada muda.

Se olharmos para dentro automaticamente não haverá a quem culpar; e se fracassarmos saberemos cara a cara que é uma opção nossa. Mas por outro lado teríamos liberdade de escolher, e escolher melhor – de modo a sermos mais felizes.

E por que preservaríamos o sofrimento? Porque estamos atribuindo  poder ao sofrimento? Porque ele parece grudado ao nosso senso de eu – falso eu?  Sofro, logo existo?

Então somos ou contratamos   nossos vilões, para proteger nossa mentira :    de que somos  mortais frágeis e vulneráveis, incompletos e carentes,  constituídos de pó.

 A função do vilão  seria a de  proteger nosso falso eu. Enquanto houver demônios, terei a quem culpar. Continuarei a ser uma parodia de mim mesmo.

Quando se copula com as sombras, e nos acreditamos por elas gerado, precisamos contratar demônios para preservar nossa falsa identidade. E assim o circo continua. Você finge que deixa a luz entrar, mas não deixa. Utiliza-a para alimentar as sombras.

Aquilo fora está de alguma forma dentro, senão você não conseguiria percebê-lo.  Há algo que está consentindo, conectando. Em algum ponto você acredita naquilo, em algum ponto você deixou a escuridão entrar.
Mas não se desespere pelo fato de ter sido responsável, ainda que inconscientemente. Se você é o responsável, então você pode mudar a situação; pode escolher de novo. Escolher melhor.


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