Se algo parece existir, ocorrer, nos afetar, deve ser porque de alguma forma – ou um resquício nosso
do qual nem nos lembramos – está operando nessa
frequência ( crença, condição, desejo, medo, etc.)
“Não cuidais vos dos de dentro, dos de fora cuidara
Deus”
E podemos sintonizar seja amando essa coisa, odiando-a,
criticando-a, condenando-a, defendendo-a; ou seja, consentindo com isso em
algum nível; até temendo-a – isto é ,
admitindo o poder e a existência do que quer que seja, bom ou ruim.
Porque para odiar ou condenar algo é preciso acreditar que ele existe,
que tem poder; e que, de alguma forma
representa uma ameaça para você , como algo que deseja ou posso vir a
desejar; ou por se sentir fraco e
vulnerável . Mas o poder não é seu?
Os vilões de desenho animado são até simpáticos; você não teme um vilão
num filme ou vídeo game, porque você não lhe atribui poder. Você às vezes até
“torce” por ele, pois você não está preso nesse contexto, tem liberdade; e
preserva seu poder e identidade.
Da Vizinha chata e Irriiiiitante ....
“ E ela gritava e fazia fofoca, e o síndico veio nos chamar a atenção “
. Essas foram as palavras de Berenice:
- Eu sempre fui educada, nunca
deixei meu cachorro fazer suas necessidades sem recolher os detritos, sempre a
cumprimento , mesmo quando ela não responde.
- O que aconteceu?
- Eu me cansei do cachorro dela vir sempre sujar a frente do meu
apartamento e, polidamente, pedi para ela limpar . Ai ela começou a gritar e me
insultar. O síndico apareceu e ameaçou nos multar por barulho e comportamento
inadequado.
( “Bosta” de cachorro é demais, se fosse de vaca daria pelo
menos para fazer adubo ).
- Você já tinha tido problemas com ela? – perguntei.
- Desde que mudei, ela está sempre fazendo fofoca, gritando reclamando , etc.
Aparentemente Berenice era a vítima: educada, limpa, falava polidamente ,etc. Será?
- Você acredita em vizinhos chatos?
- E não vou acreditar! – reclamou. – Tenho uma bem do lado.
- E você acreditava em vizinhos chatos antes de mudar?
- E você não? – defendeu-se. – Meus pais conviveram anos com vizinhos chatos.
Antes de mudar eu “rezei” para não ter vizinhos chatos.
- Entendi.
Talvez Berenice
fosse até “educada” externamente, mas e seus pensamentos? Suas expectativas e
temores? Suas memorias? Não era ela a vítima de suas ideias e crenças ?
O chato, o estorvo, o vizinho mal
educado, etc. teriam a função de
“carregar nossas vulnerabilidades” e os nossos “ medos”, tornando-se eles a
fonte do medo e do incômodo; e nos protegendo de um incomodo ou perigo que
parece maior: o medo ontológico. O terror e as sombras
em nossa própria mente. Enquanto o vilão estiver “fora”, o vilão interno
estará a salvo. Precisamos dos vilões
“fora”: vizinhos e colegas inconvenientes e até agressivos; governo ladrão;
família neurótica, etc. para termos uma explicação e justificativa para nossas
confabulações e fracassos . Eles nos
mantem ocupados e zangados justificam nossa raiva. E assim não percebemos que a
culpa, a ideia equivocada, doente e limitante está dentro de nós. Então preservamos
o status quo de vítima; e nada muda.
Se olharmos para dentro automaticamente não haverá a quem culpar; e se
fracassarmos saberemos cara a cara que é uma opção nossa. Mas por outro lado
teríamos liberdade de escolher, e escolher melhor – de modo a sermos mais
felizes.
E por que preservaríamos o sofrimento? Porque estamos atribuindo poder ao sofrimento? Porque ele parece grudado
ao nosso senso de eu – falso eu? Sofro,
logo existo?
Então somos ou contratamos nossos vilões, para proteger nossa mentira
: de que
somos mortais frágeis e vulneráveis,
incompletos e carentes, constituídos de
pó.
A função do vilão seria a de proteger nosso falso eu. Enquanto houver demônios,
terei a quem culpar. Continuarei a ser uma parodia de mim mesmo.
Quando se copula com as sombras, e nos acreditamos por elas gerado,
precisamos contratar demônios para preservar nossa falsa identidade. E assim o
circo continua. Você finge que deixa a luz entrar, mas não deixa. Utiliza-a
para alimentar as sombras.
Aquilo fora está de alguma forma dentro, senão você não conseguiria
percebê-lo. Há algo que está
consentindo, conectando. Em algum ponto você acredita naquilo, em algum ponto
você deixou a escuridão entrar.
Mas não se desespere pelo fato de ter sido responsável, ainda que inconscientemente.
Se você é o responsável, então você pode mudar a situação; pode escolher de
novo. Escolher melhor.
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